sexta-feira, 17 maio 2024

Levantamento aponta que 20% dos municípios estão há 3 anos sem homicídios em MT

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Mortes por encomenda, assassinatos por dívidas com tráfico ou em consequência da briga entre gangues, feminicídios. Estes crimes são notícias corriqueiras em Mato Grosso, mas para uma parcela da população isso não faz parte da realidade. Por ano, cerca de 20% a 30% dos municípios mato-grossenses não registram crimes contra a vida. Um cenário distante da Grande Cuiabá, por exemplo, onde 320 pessoas foram mortas no ano passado.

Das cidades “livres” dos assassinatos, 17 têm ainda um dado mais positivo, pois estão há mais de mil dias, ou três anos, sem qualquer registro. São municípios do interior do estado, com um número populacional baixo, não ultrapassando os sete mil habitantes. Na lista, a maior cidade que não registra homicídios há três anos é Ipiranga do Norte (428 km ao norte de Cuiabá) com 6.903 habitantes. Já a menor é Serra Nova Dourada (1.125 km ao nordeste de Cuiabá) que possui 1.548 habitantes. Dos 17 municípios, 16 possuem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre médio e alto e apenas um possui IDH considerado baixo. Os dados são da Coordenação de Estatísticas e Análise Criminal da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT) e apontam ainda que no ano passado, quase 22% dos municípios mato-grossenses não registraram nenhum homicídio. Ou seja, dos 141 municípios do Estado, 31 fecharam 2016 sem assassinatos.

Para a polícia, assim como para as lideranças desses municípios, o não registro de crimes contra a vida é relacionado a não existência de tráfico de drogas fluente nesses municípios. Dados da pesquisa “Diagnóstico dos Homicídios no Brasil”, realizada em 2015 pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, que avaliou os assassinatos em 26 unidades da federação, também concluiu que, em Mato Grosso, a violência interpessoal, gangues e drogas são as causas dos homicídios.

Para o prefeito de Ipiranga do Norte, Pedro Ferronatto, um dos pontos que coloca o município no ranking dos 17 que não registraram homicídios é o IDH. A cidade está entre os municípios com o IDH mais alto do Estado, o que indica, de forma geral, bons índices de educação, renda e segurança. “Sabemos que um município que investe na educação, saúde e segurança, contribui diretamente com a queda na violência. Isso é o que vem sendo feito na nossa cidade”.

De acordo com ele, a Prefeitura entende a importância desses investimentos e nesse ano pretende entregar um prédio reformado para que a Polícia Civil abra uma delegacia e atue de forma direta na cidade. Além disso, ele afirma ainda que estão sendo colocadas câmeras de monitoramento nas principais vias do município para garantir melhor segurança da população. Ferronatto destaca também que esse ano a prefeitura vai conseguir atender 100% da população na atenção básica da saúde. “Estamos terminando a construção do Posto de Saúde da Família que vai garantir atendimento total à população”.

Na cidade, ele explica que o tráfico de drogas é diretamente combatido com ações que não dão “oportunidade” para que ele se instale. “Sabemos que é um mal que precisa ser diariamente combatido, a única forma de mantermos a situação sob controle é não deixar que isso se instale”.

DIVISA – Lá na divisa com o Estado de Rondônia, o município mais distante de Cuiabá, a 1.600 quilômetros a Noroeste, também está na lista dos sem homicídios. Rondolândia tem um IDH considerado médio. De acordo com o prefeito da cidade, Agnaldo Rodrigues, o município que tem atualmente cerca de 3.800 hectares, sempre foi um lugar tranquilo para se viver, e possui um bom policiamento, já que faz divisa com Rondônia. “Esse fato agrega, porque além do policiamento aqui do Estado, temos o policiamento também do outro estado que acaba deixando o município mais seguro”.

Além disso, Rodrigues atribui a tranquilidade ao meio rural da cidade que tem como economia o agronegócio. “Quase 90% da população do município é rural, mora em fazendas, isso também é algo que contribui para a tranquilidade”. ÚLTIMO ANO – Um pouco mais abaixo no mapa, na região de Cáceres (225 km a oeste da capital), os municípios Rio Branco, Salto do Céu, Lambari D’Oeste, Reserva do Cabaçal, Glória d’Oeste e Indiavaí não tiveram registros de homicídios em 2016.

Delegada regional de Cáceres, responsável por esses municípios, Cinthia Gomes da Rocha Cupido explica que a união das forças policiais no Estado garantiu uma baixa nos homicídios na região. “Ações integradas se mostraram fundamentais para o combate à criminalidade de um modo geral, e foram cruciais para que se alcançasse o cenário de inexistência dos crimes de homicídios no período”

COMPARATIVOS – O número de municípios que não registraram assassinatos em 2016 caiu em relação a 2014 e 2015. Ao todo, nove cidades deixaram de fazer parte da lista já que, em 2014, 40 municípios fecharam o ano sem homicídios, e 41 em 2015. Já em 2016, foram 31 cidades. São Pedro da Cipa (148 Km ao sul de Cuiabá), por exemplo, ficou dois anos se crimes contra a vida, mas em 2016 voltou a registrar homicídio. O prefeito Alexandre Russi garante que a cidade, que possui cerca de cinco mil habitantes, é tranquila, mas o fato de estar próxima à BR-364 traz alguns “problemas”. “O fluxo de gente estranha pela cidade é grande, então geralmente quando acontece algum tipo de crime ele está relacionado a drogas e normalmente com gente que vem de fora”

Para o professor do Núcleo Contra Violência e Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança, o sociólogo Naldson Ramos, uma das justificativas para cidades que não registram homicídios está nos laços de solidariedade e respeito a valores, incluindo as leis. “A solidariedade costuma ser mais forte em municípios onde os laços por amizade, coleguismo, religiosidade, parentesco acabam, de certa forma, inibindo maiores desavenças. Fatores como baixo desemprego, lideranças participativas com a presença do poder público administrando e resolvendo conflitos também contribuem muito para o fortalecimento”

Segundo ele, a presença de gangues e mercado ilegal de droga são problemas que contribuem com o elevado número de homicídios no Estado.

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